terça-feira, 29 de julho de 2008

Metáfora

Por Simone Couto


Verdade maior: estou longe de atingir exatidão ou até mesmo harmonia na relação do meu corpo com o espaço, do meu eu com a vida. Ontem abri uma porta para pegar minhas cartas, ela se fechou antes que eu movesse adiante. Mais tarde, abri outra, esta também se cerrou antecipadamente. "Darling, você não consegue nunca abrir ou fechar uma porta sem se machucar", conclui meu marido. Sim, não consigo, nunca consegui. Cada porta que abro, deixo para trás finas fatias arrancadas de mim. E assim, perambulo por aí, exibindo marcas na pele que só eu sei onde estão. Abrir portas sempre foi uma dor.


(julho de 2008)