terça-feira, 7 de agosto de 2007

Soberba ignorância

De Bruno Vaks


Não adianta. Passa ano, vem ano e continuo tendo um certo problema com a geografia. Não é que não goste. Pelo contrário, sempre fui bom aluno nas aulas do primeiro grau, hoje ensino médio. Adorava saber nomes de bacias hidrográficas, explicar o que é planície ou planalto, que tipo de clima tem o continente europeu, ou simplesmente o que são as monções. Mas tenho de confessar algo que me atormenta até hoje.

Sim, confissão na porta da sacristia para o padre orador me mandar quatrocentas ave-marias. Não há maneira alguma de eu conseguir acertar as capitais de alguns estados brasileiros sitiados ao norte do país. Tirando Amazônia e Pará, que são grandes, o resto é um martírio. Sempre confundo Boa Vista com Roraima, Boa Vista com Acre, Rondônia com Roraima, Porto Velho com Amapá e por aí vai numa quase infinita análise combinatória. Não adianta. Continuo errando. Nunca sei onde é aonde. E olha que, inclusive sou formado com pós-graduação (quase coloco meu currículo aqui para vocês verem). Se participasse de programa de auditório com essas perguntas, iria para o brejo sem ganhar nenhum tostão.

Mas esse nem é o caso. O que me traz a esse assunto tão intrigante, foi a entrevista que a Danielle Souza concedeu a uma coluna social do jornal O Globo, semana passada. Para quem não conhece Danielle, ela é a já famosa mulher samambaia do programa Pânico. Eu mesmo já dei varias risadas com o programa. Mas para aqueles não familiarizados, a mulher samambaia é uma ajudante de palco, desses de auditório. A única diferença para as outras que também costumam ser beldades, é o fato dela usar um biquinizinho (vale enfatizar o diminutivo) todo revestido de folhas. Os atributos de Danielle são totalmente visíveis. Seu corpo bem torneado, digo escultural, seus olhos claros, cabelos longos e morenos. Um colírio que prende a atenção de qualquer marmanjo.

Mas o fato também não é esse. O que me impressionou em suas belas curvas devidamente vestidas num vestidinho (de novo o diminutivo) foram suas belas palavras ao responder perguntas frugais da coluna. Nada muito difícil, nada que qualquer ser humano instruído saberia responder. O resultado foi uma galhofa. Fiquei impressionado com minhas risadas que seguiram a leitura de cada frase que continha na entrevista. Era de uma alienígena. De uma pessoa fora do espaço, alguém que sem querer, nasceu. Falando português. Ela poderia ser vietnamita ou de Gana. Não importa. O grau de escolaridade de suas respostas me impressionou. De dez perguntas, não conseguiu responder nove. E que desenvoltura. Cada pergunta feita era respondida com um: - “Ihhhh, não sei!”, “Nossa que pergunta difícil” ou “Podemos pular essa?”.

Ora Dani, claro que pode. Na verdade, você pode tudo. No nosso país aonde corpo é essencial. Mente pra que? Temos de ser verdadeiros com os outros e mostrar a cara do que somos. Você pode ser pedreiro, engraxate, executivo de multinacional, piloto, tradutor e outras quinhentas profissões. O que importa é ser digno com as coisas que faz. E de que se é capaz. Espera-se do ser humano o poder da sabedoria e da educação. Que ele ao viver e crescer possa absorver tudo aquilo que der, tornando-o uma pessoa melhor, para que assim, possa ajudar o mundo a viver melhor. Você não tem culpa de não saber as respostas. Ninguém te ensinou e te disseram que a valorização do seu corpo era muito superior e podia lhe render alguns frutos. Não tem como negar, você é monumental. Um colírio para metade dos cidadãos brasileiros. Mas da mesma maneira que você é um colírio, você também é uma realidade. Com um cérebro pouco exigido trouxe a tona o que nosso país tem de podre. A falta de educação. Te garanto que dezenas de milhares de cariocas se deliciaram com sua entrevista. Se divertiram, zoaram com as possibilidades perdidas por você e com a falta de massa encefálica contida no bate papo informal. Ao mesmo tempo em que traz vergonha, traz também satisfação. De uma maneira que não saberia explicar a você. Um antagonismo crônico capaz de elucidar o mais premiado dos pesquisadores.

Toda vez que passo por você Danielle, pelas bancas me dá uma vontade de te comprar e te conhecer melhor. Mas a possibilidade das respostas me afugenta, para que continue sonhando com as curvas perfeitas da minha imaginação. E enquanto isso passa, pretendo decorar as capitais e estados citados acima para não dar vexame num futuro concurso nacional.

2 comentários:

Aline Yasmin, Bruno Vaks e Simone Silveira disse...

Não seria maravilhoso ter o corpo da Dani? Acho que o cérebro já está meio caminho andado. A geografia quase lá. Bom saber o que os homens gostam. Pelo menos alguns. Bjs, sim.

ALINE YASMIN disse...

Bruno querido...deixa as curvas da moça nesse país brejeiro...Não é muito fácil para uma mulher - ser eloquente. Por vezes, quase maldição...risos. bj's.
Ps.: bom saber que o discurso tem vez.