terça-feira, 21 de agosto de 2007

Belle&Sebastian ≠ Beirut

De Bruno Vaks


Animado com o sábado à noite, após um showzinho com a participação de Marcelo Camelo (Los Hermanos em recesso) mostrei no carro para duas amigas o novo som que descobrira ao ler uma crônica do Dapieve há algumas semanas. Confesso que li com interesse aquela crônica, porque crônica de musica é comigo mesmo. Gosto. E muito! Só a possibilidade de desvendar novos ritmos e escutar novos sons me entusiasma. E se são da linha auditiva que eu sigo, melhor ainda. Por isso recomendo a crônica dele no O Globo e aqui vai uma recrônica (nem sei se isso existe, o importante é criar!).

Pois bem, não consigo me lembrar muito bem de todos as características e qualidades da banda que comecei a escutar. Ahh! O nome da banda é Beirut. Eles não são do Líbano, muito menos árabe, são jovens de uma cidadezinha de Nova Jersey, estado que o fato mais importante a se saber é que faz divisa com a cidade de Nova York.

O porém foi que ao tocar a primeira musica no radio do carro, uma das amigas falou: -“ Já adorei, me lembra um pouco o Belle&Sebastian...” Peraí, como assim? Depois de ter escutado, pelo menos três semanas seguidas, as musicas deles, nunca tinha passado pela minha cabeça que eles pareciam Belle&Sebastian. De cara não concordei e me veio as imagens do show que B&S (chamarei assim, ok?) fez aqui no Rio há alguns anos atrás.

Curioso como sou, fui atrás de bandas novas no chamado Lab, palco experimental do festival. Não me lembro qual outra banda internacional estava agendado junto a eles, mas me recordo que fui atrás da outra banda que conhecia bem. Mas como era show conjunto, resolvi ficar para escutar o som do B&S, já que um amigo dizia mil maravilhas da banda. Lamentava que uma das cantoras ou cantores não estaria presente. Até então OK! Já estava satisfeito com a noite quando entraram. Confesso que estranhei seu som e tudo aquilo que tinham me dito sobre eles veio ao contrário. De banda animada, achei chato demais. Da melancolia proposta, conclui que era uma euforia exacerbada. Da musicalidade variada, não passava de banda feijão com arroz. Lembro também que o lugar estava lotado de jovens adultos como eu, com suas roupas estilosas, cheios de personalidade alternativa, numa tradução perfeita da geração indie que encontramos hoje em dia.

Uma coisa me atordoou enquanto assistia a performance. No final do show com grande parte da platéia em polvorosa, chamaram algumas pessoas para subir ao palco. Logo começaram a dançar e viu-se uma enormidade de rótulos iguais. Como saias xadrez, peles bem brancas, piercings e meias até acima do joelho. Desculpem-me não sei como as chamar. Lá em cima as pessoas pulavam e dançavam sem parar, rindo e cantando a musica que há pouco desconhecia. O que me incomodou foi a alegria indiferente que vi nos rostos daquelas pessoas. O que elas queriam mostrar, de fato, naquela idealização completa de felicidade? Não poderei me esquecer da garota rechonchuda que pulava sem parar, sorrindo metálico para a platéia, quase em êxtase com sua mochila presa às costas balançando de um lado para o outro.

Isso foi há alguns anos. Hoje sei que não poderei desmistificar os que gostaram e muito, daquela performance. Eu nunca mais escutei B&S e criei uma certa repulsa. Por isso minha explanação toda sobre a igualdade de sons totalmente diferentes. Ao escutar Elephant Gun, do mais recente EP deles Lon Gisland, sinto uma paz invadir meus ouvidos e conseqüentemente o corpo. Uma mistura de violas, sopros, acordeons, pianos e pratos equivalentes a uma pequena orquestra. Não conheço muito de musica clássica. Um som que já escutamos na (extinta?) Los Hermanos e até nas bandas de colégio aonde todos uniformizados desfilavam em praça publica no Sete de Setembro. Não só a mistura de sons, mas também uma mistura de ritmos como o próprio Dapieve divaga em sua crônica.

E eu como judeu, que enraizado desde criança escuto musicas tradicionais do Leste Europeu pela ascendência ashkenazi, posso dizer que eles me remetem a um tempo que não vivi. Um tempo onde não existia radio, muito menos carros. Cavalos, fornos a lenha e danças em roda (pois esta, vejo inúmeras vezes em eventos judaicos e até em bandas novas, como a Móveis Coloniais de Acaju, que assisti no primeiro semestre). Onde andávamos a pé e uma carta demorava semanas para chegar em seu destino. Mesmo a cidade sendo a 500km da sua. Eles me remetem a estar passeando estático num carrossel imaginário onde todos celebram a felicidade comovendo até os melancólicos e saudosistas. Onde maçã do amor era motivo de declaração de amantes e as historias eram contadas ao lado de lampião a gás.

Por esse motivo não posso aceitar essa equivalência e é difícil não recomendar aos entes queridos, por que musica precisa-se ouvir e o principal, gostar. Não adianta escutar só porque todos dizem, você tem que sentir que algo muda em você quando elas começam. Mas desta vez, não teve jeito e me mantenho parcial a favor deles. E que venham ao Brasil.

Um comentário:

Simone Couto disse...

De acordo com tudo. Adoro crônicas sobre música tb, Bruno. Uma das coisas que mais sinto falta são dos shows no Circo e no Cep. Aquela energia de bandas novas, gente jovem no começo de carreira, Pedro Luís, Boato, tudo muito bom. Vc tem que entrar em contato com Leonard Cohen, jea te falei dele. Vai adorar, acho que seu gosto musical se parece um pouco com o meu. Procura por aí, se não encontrar, te mando uns cds.

Bjs, saudades, simone