quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Hoje tem chopada!

De Bruno Vaks


Ufa! Finalmente olho para a página em branco e começo a dissertar sobre os acasos da vida que sempre nos acontecem. Ao andar pelas ruas, você tem a possibilidade de encontrar os mais diversos tipos e as mais diversas situações podem ocorrer contigo num piscar de olhos.

E é claro que uma dessas ocorreu comigo. Na verdade ela costuma ocorrer duas vezes ao ano. Nos meses de março e agosto, dezenas de jovens aparecem pintados, sem um dos sapatos, com um copo de plástico na mão e um sorriso na boca. Vale lembrar que isso é na maioria dos casos. No vai-vem diurno da pressa das pessoas, aqueles jovens simpáticos abordam qualquer pessoa que acham que valha e pedem uma “contribuição”, já que são os famosos calouros da faculdade. Essa contribuição é para pagar o pedágio das roupas apreendidas e para financiar a chopada dos veteranos. Uma animada confraternização, que simplesmente é pura azaração.

Mas o fato não é esse. Diferente de outras abordadas, essa não me apetece muito. E não é porque sou sovina nem nada. É muito difícil para eu não dar uma contribuição. Aquelas meninas no começo da vida adulta pedindo um trocado é de matar.... (o velho). Já reparou na cara das pessoas quando não ajudam. Elas ficam sem graça e muitos inventam desculpas. “Pô hoje não vai dar”, “Cara só tenho nota de R$50”, “Vai entornar hoje hein?” são uma das respostas que ouvi. Eu mesmo, já falei isso, depois de ajudar duas pessoas no mesmo quarteirão em Ipanema. Com a proliferação de escolas e universidades, as ruas ficam infestadas deles zanzando pedindo contribuição. Um fator que acho mais absurdo ainda é que muitos viajam cerca de 30 km para pedir essa contribuição. Como sair de Niterói e pedir a caixinha no Leblon. Afinal como se estão sem um sapato, sem uma camisa, totalmente pintados e sem dinheiro? Uma pergunta que é difícil de calar.

Depois de ficar constrangido em não ajudar um calouro semana passada, vi logo a frente um menino de rua pedindo dinheiro para comer. Diferente do calouro, o garoto estava com roupa surrada, não exibia sorriso algum no rosto e olhava impávido o frenesi dos estudantes. Verifiquei que as pessoas não pediam desculpas para o menino e também não davam satisfações a ele. Simplesmente diziam não quando outras muitas ignoravam. Aí quis traçar um contraponto entre a tristeza e alegria dos jovens hoje em dia. Enquanto uma pequena parcela com poder e anseios, pede animadamente um dinheirinho para beber com os novos colegas da faculdade, uma grande parcela pede um dinheirinho para sobreviver. Não quero dizer que a culpa é nossa, ou do governo. Todos sabemos que falta política social e educacional em nossas metrópoles.

A reação das pessoas é que tornou a pobreza, uma questão secundária para nossas visões indvidualistas. Gosto de dizer que nós jovens, somos traçados pelo indivualismo unilateral. Isto é, vivemos para si e às vezes vivemos para os outros, os famosos entes queridos. O que eu notei foi a fantasiosa falsa impressão de bondade que todos nós, na intensa correria do dia-dia esquecemos de ver. Aprendemos a não ajudar aos outros pelo fato de que assim, o pedinte nunca sairá daquela situação que se encontra. Muitas vezes deixamos de ajudar uma criança, porque sabemos que a mãe irá embolsar a quantia e gastar com outras coisas, como bebida e cigarro, enquanto essa criança poderia estar na escola.

Mas a outra parcela que está ingressando na faculdade poderia fazer com esse dinheirinho, uma coisa mais nobre. Me lembro de quando entrei na faculdade e não escapei do trote,e fui parar numa das avenidas mais movimentadas do centro, pedir uma contribuição. Um conhecido meu riu ao me ver e continuou, abordei um grupo de japoneses engravatados que não ajudaram e depois de penar por horas no sol, assisti de longe a bebedeira daqueles que seriam o futuro de nosso país.

Por isso que hoje durante esses meses, evito sair cheio de trocados pelas ruas para que não possa passar pela vergonha de ajudar um jovem a beber com os amigos do que ajudar um jovem com fome. E para aqueles que não concordem comigo, ou não achem certo o ponto de vista levantado, que prestem atenção nos murais por aí, por que uma nova chopada vem chegando.

Um comentário:

Elaine Pauvolid disse...

adorei o blog!
Parabéns. Achei a idéia ótima.