segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ao Ponto

De Simone Silveira

Sempre me impressiono com os que desejam e mesmo assim escolhem a segurança de um amanhã falido. O sujeito sabe que não é feliz, a Felicidade está esmurrando a porta, quase rouca pedindo para entrar, e nada. O Homem até encontra a coragem, coitado, depois de dias, de pegar a chave e colocá-la no orifício da fechadura. A mão treme e ele desiste. A Felicidade sabe da desistência. Ela sabe de tudo. "E aí, meu caro, abre logo esta porta pois seu tempo extenua-se," diz Felicidade. A porta continua cerrada. O Homem esquece que o tempo ainda lhe pertence. Não todo o tempo do mundo, mas o pouco que possui é elixir na palma da mão em concha. "Olá, e aí, que bom ouvir sua voz," diz o Homem. E só. Sim, ela espera um pouco mais do outro lado. Desiste. Não pede mais. Elixir escorrendo por entre os dedos do Homem. Felicidade sabe da fraqueza alheia. "Eu vou bem, um pouco cansada. Ao esperar, me torno pingo caindo de um conta-gotas sem intervalo até nada mais restar senão o vazio preenchido pelo ar, " diz ela. Agora muda, parte mesmo, afinal ela é o que é. Vai não sem antes pendurar uma nota breve e honesta: Felicidade não bate duas vezes `a porta do Homem de alma perdida.

Um comentário:

ALINE YASMIN disse...

metáfora maravilhosa querida...adorei. bj's