domingo, 21 de outubro de 2007

Tropa e Elite

Por Aline Yasmin


Dois assuntos têm permeado a massa nos últimos dias e mesmo que distintos ambos perpassam a mesma temática: a violência.

Um gira em torno do filme Tropa de Elite do diretor José Padilha e o outro, de um artigo do apresentador Luciano Huck sobre o assalto sofrido.

Num olhar mais aprofundado podemos destacar que a discussão é o que emerge de uma situação ainda mais complexa que é a desigualdade social e suas representatividades.

Simultaneamente temos a palavra "elite" posta em dois planos antagônicos. De um lado, heróico, de outro culpado. A questão aqui não é julgar e tampouco condenar um ao outro, mas provocar uma reflexão sobre a medida de valores em que a sociedade se interpela.

Somos todos reféns. Talvez esse seja um fato. Ricos ou pobres. Estamos reféns de nossos próprios valores e da distorção a que estamos expostos.

O batalhão do BOPE – polícia de elite – é mocinho, mas utiliza-se de meios ainda mais violentos para reduzir a violência – física e moral, inseridas inclusive na própria estrutura institucional. A população aplaude em sua maioria, as crianças cantam suas musiquinhas ..." pega um, pega geral..." em coro e a estética cinematográfica é "cult", quase digna de indicação ao Oscar.


A elite do mauricinho é alienada e opressora, ícone da desigualdade. O bandido é a vítima. Não estamos propondo cultuar o malfadado objeto Rolex, nem dar voz ao excessivo valor material da massacrante sociedade de consumo da qual também somos reféns – obviamente referenciais do desnível social e muito menos em menos tirar o êxito da "exemplar" corporação.


A reflexão é sobre o que está sendo discutido e o que estamos cultuando enquanto valores referenciais que passam a justificar os meios pelos fins. Talvez seja propor um pensamento onde a tendência não seja balizar-se na dualidade maniqueísta separando realidades entre o bem e o mal, mas um pensamento onde haja matizes, nuances que possibilitem isolar condutas e não simplesmente entrar no jogo cartesiano de enxergar as extremidades num plano meramente linear.


Nem toda classe média financia o tráfico, nem todo rico é alienado, nem todo pobre é ladrão, nem todo ladrão é vítima – ou o contrário. Separar o jogo do trigo não é estabelecer paradigmas libertadores ou dogmáticos.


É necessário estabelecer uma crítica, ao invés de procurarmos bandidos ou mocinhos. É necessário – sim - formarmos massa pensante, consciência crítica para buscarmos juntos, um diálogo: pobres, ricos, aviltados, violentados e violentos – uma nova elite – tropa social desalienada – da matéria e de discursos viciados.

Um comentário:

Simone Couto disse...

Alyne, muito bem dito. De longe afirmo, mais educação e menos TV, seria um bom início para se chehar ao que vc chama de tropa social desalienada.