sábado, 20 de outubro de 2007

Brasil, il, il, il

De Bruno Vaks

Está bom. Todos sabem que futebol é coisa para entendido, mas todo mundo dá pitaco. Até os mais desinformados. Escrevo assim para não ganhar nenhuma ofensa vinda dos meus três leitores (Obrigado Sim e Aya, o outro ainda é desconhecido). Mas o fato é que quero dissertar – esse é o verbo – sobre o jogo do Brasil que ocorreu ontem (dia 17/10) no Maracanã. Após sete anos de televisão, a equipe milionária brasileira veio fazer um espetáculo aqui no Rio.

Tenho que dar parabéns à ordem e a civilidade, menos no Metro, diga-se de passagem, que encontrei ao longo das 3 horas que passei por lá. Tirando a goleada e as jogadas bonitas, posso garantir que foi um jogo para lá de burocrático. Muitos erros, muitas afobações, muitas bolas perdidas, mas esse não é o fato que irá preencher essa crônica hoje. Não as jogadas, os dribles e os gols, mas sim ao que eu chamo de hipocrisia do brasileiro.

Também não vou citar nenhum filosofo francês ou alemão para repetir suas palavras sobre o ambiente, mas vou evocar a extensa cultura carioca de ser, que cultivamos há anos e anos. Achei chôxo (se escreve assim?), sem sal e um pouco desanimado o jogo da “família brasileira” como muitos falaram. Já reparou que ninguém fica gritando Brasil, Brasil o tempo inteiro? Quando uma bola batia na trave cantava-se Brasil duas vezes, e todos calados novamente. Enquanto isso um lado da arquibancada começa a cantar gritos de guerra do Flamengo enquanto o outro lado grita hinos do Vasco. Ora se é um jogo nacional, porque cargas d’agua a mesma torcida fica se provocando? Hipocrisia um.

Outro fator que não me comove é esse sentimento falso de patriotismo exacerbado. Explico, calma. Confesso que até hoje me emociono com o hino brasileiro por suas palavras bonitas e complicadas que muitos que o cantam enrolam-se com palavras imaginárias ou enrolam até chegar no refrão. Eu já fui um desses e até hoje cometo gafes. Mas não consigo cantar de jeito nenhum aquela cantiga criada por algum publicitário como eu, dizendo: Eu sou brasileeeiiiro, com muito orgulho, com muito amor. É intragável. Concordo que muito amor tenho pelo Brasil, agora dizer que sou orgulhoso é omitir tudo que se passa nesse país e com a sucessão de acontecimentos que vamos deixando para trás. Orgulho de ter um país corrupto, ingrato e com desigualdade social? Peraí, essa é uma hipocrisia camuflada que todos cantarolaram sem um mínimo de culpa, por isso essa é a dois.

Mas como todos, acredito eu, me divirto com os comentários que escuto de outros torcedores, vindos do lado, da frente e de trás. Preste atenção, tem tanto comediante que é capaz de você passar o jogo inteiro rindo. Claro, se o seu time estiver ganhando. Mas chega a ser engraçado que mesmo depois de execrar o tal jogador, quando ele faz gol continuam falando mal e às vezes o fazem por puro orgulho. Orgulho de ser brasileiro como dizia a musica? O que não consigo entender é a relação de amor e ódio que as pessoas tem em relação a alguns jogadores. Como aos dez minutos do primeiro tempo você pode odiar o tal jogador pedindo a cabeça dele, da mãe e do papagaio e aos doze minutos quando ele mete um gol você declama poemas e juras de amor ao mesmo cabeça de bagre que você xingou? Isso me cheira a mentirinha do tempo da escola para esconder da professora porque você chegou atrasado do recreio. Não consigo achar outra palavra a não ser hipocrisia o que ocorre. Está ai a numero três.

Vocês devem estar pensando que vou enumerar ate dez, as melhores hipocrisias cariocas num jogo de futebol. Não vou não. Três está de bom tamanho. Isso tudo foi escrito até agora para que eu possa demonstrar a tamanha felicidade em dizer em bom e alto tom que a musica que foi mais comemorada no jogo do Brasil, tirando a comemoração do gol com a jogada fantástica do Robinho, foi a musica para o Galvão Bueno. Acho que nunca num estádio, vi tanta gente pulando de alegria e satisfação num grito de guerra que manda o locutor mais odiado e amado da Globo tomar naquele lugar. Os pulos de felicidade aí sim eram legítimos. A rapidez com que a musica fluiu também foi assustador. Queria eu estar na cabine para ver a cara do sujeito. Isso sim é a irreverência carioca, isso sim mostra a cara do povo e daquilo que ele não quer. Isso sim não é nada hipócrita.

Um comentário:

Aline Yasmin, Bruno Vaks e Simone Silveira disse...

BVaks,

ninguém melhor que ti pra falar de futebol e da irreverência carioca.

Sim.