segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Estudo Sobre Maçãs

Por Simone Couto

O inverno engrandece-se nas notas das quatros estações de Verdi. É austero com o homem. São pequenos golpes perfurando o osso oco e alastrando-se consistentemente. O inverno chega no jardim por trás do muro que separa a minha casa de 120 anos da dos Palmers. Lá há macieiras de folhas permutáveis. Notas de outono. Rubro-laranja-qualquer coisa entre, assim sei que o tempo é mestre diligente. Nem todas as frutas são colhidas. As últimas apodrecerem no pé. Um desperdício que não dói e sim reflete a natureza crua e bela, escolhida para não ser modificada pelas mãos do homem. Lá estão elas, as maçãs, enrrugadas, penduradas. Galho estéril. Eu daqui, do lado de cá do muro, aprisionada no compasso silencioso e transitório dos meus dias, encontro beleza na velhice das maçãs. Como elas, seco uma vez por ano sem dor.

Um comentário:

ALINE YASMIN disse...

querida,


sempre tão sábia...lindo o que disse. bj's