quinta-feira, 26 de julho de 2007

ADEUS

Por simone Couto


Bruno Vaks
falava hoje na sua última crônica postada na net sobre o grande benefício de se dizer "olá" em lugar do corriqueiro "oi". Defendia ele, o "olá" bem dito, ao se conhecer o outro.

Entre as minhas obsessões, carrego o gosto pelo saudosismo, perda, partida. Hoje pensei em todo os adeus— ditos, não ditos, dados, recebidos ao longo do meu caminho.

E se amanhã tiver eu que dizer um adeus? Como? Qual o adeus entre tantos?

“Não posso ficar nem mais um minuto com você, sinto muito amor...” Se eu perder este trem...”. Quem nunca derramou uma lágrima quando a voz falhou? Ou deu um aperto frio de mão quando o desejo era um abraço longo? Há o adeus que nunca foi dito. A estação vazia, o viajante parte—ele e a sua bagagem.

Há o adeus que já nasce na hora do encontro primeiro. Eles se conhecem, se entrelaçam, se dividem e já estão marcados com o adeus. Penso naquele dado a quem se ama antes da hora. A vida foi breve. O amor foi breve. A estrada mútua passa a ser de só um. Este eu ainda não vivi.

Macalé já dizia, “Sim, eu estou tão cansado, mas não pra dizer que eu não acredito mais em você... ” Adeus dolorido o cantado pela Gal, rasgando a alma. Este é o adeus dos amaldiçoados, dos que amam obsessivamente e não se entendem, a dor é grande demais, o cansaço é o que resta. O desejo jaz.

Há o adeus que não se quer dar, se empurra para o dia seguinte. A palavra fica ali, dissimulada, nas ligações não feitas, nas cartas não mandadas, nas horas intermináveis de espera de um sinal de vida alheio. E quando o sinal chega, é tão brando, desbotado, que o adeus já nem é necessário. O tempo se encarrega do aceno.

Para os iludidos, é necessário o adeus cara-a-cara.

Finalmente há o adeus mudo, daqueles que se calam por si mesmos em solidão plena.

Julho, 2007

4 comentários:

ALINE YASMIN disse...

querida, linda como disse - como você é. O adeus pra mim é sempre uma chegada. Deixamos um porto para nascer em outro. Somos feitos de pequenas mortes.

bj enorme.

ay.

Aline Yasmin, Bruno Vaks e Simone Silveira disse...

aline, filósofa, como sempre sábia.

Obrigada. Um dia aprenderei olhar as minhas partidas com o rosto preparado para o prazer da chegada (mais cedo o mais tarde, há sempre uma chegada, verdade maior).

Patricia da Marô disse...

Amei seu adeus, Si. beijos

Aline Yasmin, Bruno Vaks e Simone Silveira disse...

Pati, minha amiga de sempre,

adeus será uma palavra que jamais habitará entre nós duas. Amo vc.

Simone