terça-feira, 14 de agosto de 2007

A sutil arte de escoar pelo ralo

De Bruno Vaks


Sabe quando você está com a pagina em branco sem ter idéia para escrever uma historia? Logo hoje te dá vontade de escrever uma historia, mas a idéia trava, a cabeça não pensa e você não consegue tirar uma frase da cabeça? Provavelmente não, porque não são muitos que usam a escrita de oficio. Nem eu! Vejamos outro exemplo, você corporativo, tem que imprimir aquele relatório enorme para o seu chefe e empaca porque deu erro na fórmula da planilha XYZ e você não consegue achar aonde que está o maldito problema.

Mas o fato é que uma frase me atazana desde a manhã, quando li num cartaz em uma padaria o seguinte: “A sutil arte de escoar pelo ralo e .....” (esqueci o resto). Confesso, achei linda. De uma profundidade tremenda que não sei aonde pode chegar. Muitos vão dizer no mar. Afinal, aonde os dejetos cheios de água acabam. Do esgoto para o mar. Mas o ralo é diferente. O ralo não é conhecido. Ninguém conhece as paredes do ralo. O seu caminho até o esgoto principal. É claro que você já se pegou olhando no banho, após ficar com o shampoo durante três minutos na cabeça conforme manda as instruções no verso do dito cujo, porque se você ficar um minuto ou dois o produto não fará efeito. Voltando para o banho, você entra debaixo do chuveiro e vê toda aquela água cheia de espuma indo rodando feito redemoinho a entrar pelo ralo. Sabe lá aonde isso vai chegar.

Aposto que você nunca chegou perto do ralo para ver o que há dentro. Cem por cento das vezes é pelo medo de lá sair um bicho inenarrável, com quinze braços, cara medonha e lotado de vingança das milhões de vezes que você utilizou o ralo para esvaziar seu box.. Mas esse medo reflete sim, a barata que costuma sair de lá e que tens muito nojo.

E se não tivesse o ralo, como sairia a água do seu box? Ia transbordar a sua casa, a menos que tomasse banho de rio ou ao ar livre, com uma grande camada de terra embaixo de você criando um grande lamaçal. Nem com havaianas você se salvaria. Já pensou na dondoca? No cantor de chuveiro? E as pessoas que escrevem no box quando ele fica embaçado? O que elas fariam na hora do banho?

Digamos amem ao ralo, pois sem ele ficariam petrificados de tanto cheiro ruim. Afinal, é uma arte que estamos falando. O verbo “escoar” já me soa como uma onda, como um fluido que passa de um lugar para o outro. Ou essa é a definição? É de uma grandeza. Juntando a isso o fato de ser arte, só podemos finalizar com um adjetivo que demonstra tudo isso sintetizado: sutil.

Por isso, prestem a atenção em seus movimentos e ajam com carinho ao desentupir. Muitas vezes a culpa é sua e não do ralo. É capaz de ter sido o seu cabelo que tenha enrolado tanto que não deixa mais a água fluir.

Apesar de todas essas colocações acima não terem muito a ver com a pagina em branco, pode se dizer que a intersecção de todas essas informações inúteis conseguiu levar um tempo enorme de explicação e ter tido a oportunidade de se tentar escrever uma crônica, num dia que a maioria das coisas não dá certo, o melhor para se fazer é começar um bom livro e adormecer sobre ele.

Um comentário:

Simone Couto disse...

ainda bem que já jantei, Bruno. Para quem não tinha assunto, muita água passou pela ponte e moveu moinhos nesta crônica. Parabéns por tirar este coelho da cartola! Bj, Simone