quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Santa Teresa por ele

Por Simone Couto

Homem não chora. Quem chora é ela, Santa Teresa. Eu vi. Chorou minutos antes de você chegar.

Eu me arrumei todo. Olha que não sou de vaidade. Pensei em colocar a minha melhor roupa e acabei mudando de idéia. Queria te encontrar com a cara limpa. Não coloquei brilhantina no cabelo, não usei meu terno branco. Aparei de leve a barba. Me enchi de esperança.

O que fiz foi esvaziar a mente. Desmarquei a consulta das 11:00 horas com o dentista, despachei a empregada e dei-lhe uma gorjeta generosa. Desci e fui até a esquina. Comprei um maço de cigarros. De volta à casa, dispus o pacote e o coloquei na mesa ao lado da cama. Antes de tomar um banho, telefonei para o taxi e pedi que me pegasse às 19:00 horas. “Não posso me atrasar, informe ao motorista,” eu disse à telefonista da agência de taxi.

“A primavera é uma dama tímida”, pensei ao passar pelo o Aterro do Flamengo e ao avistar escassas flores de um rosa pálido nos galhos das árvores. Seguimos. As ruas estreitas e as curvas do morro surgiam aos poucos. Aquilo tudo era uma visão familiar. O taxi parou. Fui generoso novamente na segunda gorjeta do dia.

Pisei em Santa Teresa e as primeiras gotas de chuva, quase invisíveis, molharam a linha do bonde, os paralelepípedos disformes, as buganvílias agarradas no muro, o mesmo de meses antes, onde nos apoiamos entre uma banda carnavalesca e um beijo perdido na multidão. 19:20, ainda tenho dez minutos. Que fazer com estes dez minutos? Acendi um cigarro.

Teresa chorando você não viu assim como a minha alegria desfalecendo. O porvir foi assim, eu te conto: dose de cachaça descendo quente pela garganta, o pandeiro tocando desafinado, "você manhã de tudo meu, você que cedo entardeceu, Você de quem a vida eu sou, E sem mais eu serei... Você um beijo bom de sal, você de cada tarde vã, Virá sorrindo, de manhã..."

O músico passou o chapéu. Desta vez fui miserável. Paguei a conta. Caminhei rua abaixo por entre os trilhos. Matutei com os meus botões, ô mulher ingrata. Vá pro diabo que te carregue.

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