quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Menos Bombas, Mais Amor

Por SimoneCouto

Mais uma viagem ao Brasil e me dou conta o quanto o carioca é inventivo no que diz respeito à linguagem. A gíria está no ar, a gente respira sem opção e logo, bumba! Já está lá ela, sempre na moda, inserida a cada duas frases. “Vai bombar, Simone. O Ano Novo em Porto Seguro vai bombar,” meu querido companheiro literário Bruno Vaks afirma entusiasmado, entre uma garfada do cabrito bem assado no Nova Capela, restaurante cheio charme no coração da Lapa, e uma golada no chope estupidamente gelado.

Nestes dias quentes de verão de 2008 parece mesmo que tudo “vai bombar” no Rio de Janeiro e fora dele. Noite seguinte, resolvo ir balançar o esqueleto lá no Carioca da Gema, outro “point” legal da Lapa. Um amigo, possivelmente entediado, sugere a Quadra de Samba da Mangueira. “Uma e trinta da manhã, Simone, Já deve está bombando por lá, está afim?” diz ele. Claramente não estava pois não movi um dedo em direção à Estação Primeira. Além do mais, a cantora do Carioca começava os primeiros acordes de Roda Viva, do Chico Buarque. Arrastei a saia, gritei o hino e até me dei conta, espremida entre tantos corpos suados que a música fizera meus pêlos se arrepiarem. Ô coisa boa, pensei, ainda sou brasileira da gema.

Entre tantas gírias passageiras que tento aprender às pressas para não ficar demode, desta vez, me fiz de surda e muda, não me popularizei. Desta vez resolvi mesmo ficar cafona.

Da onde vem o termo “bombar”? Fui averiguar e tantas respostas recebi que resolvi tirar minhas próprias conclusões. Será o termo “bombar” um reflexo da violência ignorada pelas autoridades máximas do Brasil e já assimilada pelo brasileiro, que agora a vomita aos montes e nem se dá conta? O verbo já não habita só as favelas com suas ruas nuas, população sem lenço e sem documento. O sol é tão bonito e ainda se reparte em crimes já banalizados pela sua ocorrência cotidiana, lá no alto do morro e fora dele. O Rio é um só, o povo também. Quando a violência chega desapercebidamente à boca e vira moda, é hora de parar, meu chapa, e se perguntar, que país é este em que vivemos?

4 comentários:

ALINE YASMIN disse...

é, minha amiga querida...vivemos infelizmente essa distopia...essa resignação de que tudo é assim mesmo.
Eu acho mesmo que estamos precisando é viver um mundo de mais afeto, de mais comida na mesa, de mais educação. Parece que estamos cada vez mais longes disso e cada vez mais perto de nos tornarmos uma bomba relógio...

bj´s

Bruno Vaks disse...

No sentido figurado, é claro, bombar, bem de encher. Encher um pneu, encher um lugar e se o lugar está cheio demais, é claro que está bombando!!! eheheh. Afinal slanks vem e vão e essa por agora está bombando.
bjs

Simone Couto disse...

Bruno, bombando ou não, a nossa noitada lea no Nova capela/lapa está de pé!

ALINE YASMIN disse...

e a minha ainda está no débito...hahahah, né vaks?