segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Sobre Dor e Aquiles
Por Aline Yasmin

Hoje eu tenho uma dor. Ela começou no pé - direito, mais precisamente no tendão do tornozelo..é não era bem no pé...mas dor é assim, se espalha. E essa dor extrema, não porque era insuportável, mas porque estava na extremidade, me fez reclamar. Reclamar mais do que era necessário. E isso quer dizer dor. Quando percebi, já tomava corpo...peito, cabeça, ombros...era uma dor maior do que daquele tendão. Não dava pra ser injusta e atribuir tanta tristeza a um pobre tendão, embora fosse o de Aquiles.

Aquiles, o mais belo, robusto e valente herói grego. Seu pai, Peleu - rei da Riótida e sua mãe,Tétis, aquela que mergulhou seu corpo nas águas do rio Estige, pendurado pelo calcanhar, em busca da imortalidade. Esse pequeno detalhe que passou desapercebido pela zelosa mamãe, o deixou vulnerável. Páris o feriu mortalmente com seu arco, enquanto Aquiles desfilava elegantemente, certo de sua invencibilidade. Caiu morto numa dor profunda, vítima da fragilidade ignorada.

O que essa lenda mostra é certo: Todos temos nosso calcanhar de Aquiles, embora nem sempre o saibamos qual seja. Um dia alguém vem e nos acerta.

Mas volto a falar do tema dor estendendo-me ao englobante conceito, pedindo desculpas desde já por minha compulsividade. É que escrever é um processo onde cada um deve ou não, pode ou não se identificar. Assim, para os que não se interessam, para os que não pensaram na própria dor, para os que não se importam com a dor alheia, nem com a minha, nem a do Aquiles, sugiro que mudem de tema ou de texto. Pretendo continuar neste até que ela se esclareça de vez. Pode lhe ser útil.

Dor segundo o Wikipédia é resultante de:
1. Variações mecânicas ou térmicas que ativam diretamente as terminações nervosas ou receptores.
2. Fatores químicos libertados na área da terminação nervosa. Estes incluem compostos presentes apenas em células íntegras, e que são libertados para o meio extra-celular aquando de lesões como os íons Potássio, ácidos.
3. Fatores libertados pelas células
inflamatórias como a bradicinina, a serotonina, a histamina e as enzimas proteóliticas.

Mas...como atribuir dor à alma? Alma...para alguns, psiquê, composta dualisticamente pelo sistema corpo-alma, independentes. Para outros, unidade substancial - parte integrante do ser...dependente, integrante, sinérgica, inseparável.

Vamos lá, se entender dualisticamente, pode doer a alma, mas não necessariamente o corpo...
Se entender unidade, dói tudo.

Mas, Cartésio diria...SEPARA! E então, eu corro, maquinalmente...respondo ao meu próprio corpo que sorri, faz ginástica, dança.
A alma, responde: piso em falso, em desequilíbrio, rompo meus ligamentos, e choro por uma dor no pé.
A cabeça, parte outra extrema não ignora e reclama da dor que dói mais e volta sistematicamente a teoria de que não dá: dor é dor e dói - tudo.

2 comentários:

Anônimo disse...

oi Aline Yasmin!

tive acesso a um texto que escreveu chamado A ÂNCORA E O INDIZÍVEL. Texto para teatro. Estou emocionado. Quero muito vê-lo encenado no palco, se o ator tiver a capacidade de colocar no corpo, na voz e na expressão, vai dar vazão pra um acontecimento muito vivo.
Tomara que ele consiga.

ALINE YASMIN disse...

querido...se for mesmo o ator Vinicius Piedade que eu conheço dará conta de sobra...aliás, será uma honra vê-lo interpretando tais palavras...estou ansiosa por isso. bj´s